28/10/2013

AS 24 HORAS



Todos temos 24 horas por dia, então, na verdade, não temos falta de tempo. Da mesma forma que tentamos enfiar o nosso roupeiro inteiro dentro de uma mala de viagem porque não queremos abdicar das nossas 100 peças de roupa favoritas e lutamos corpo a corpo com a mala para a conseguirmos fechar, assim fazemos com a nossa porção diária de tempo.


 Procuramos encaixar tudo aquilo que precisamos e queremos fazer em 24 horas: comer, trabalhar, dormir, estudar, descansar, ir às compras, limpar a casa, ajudar os filhos com os TPC’s da escola, dar banho ao cão, passear o cão, ver televisão, ir ao Facebook, twitar, ler emails, visitar amigos, preparar o jantar, brincar com os filhos, correr para apanhar o transporte, correr para manter a forma, ler um livro, beber um copo, passear, telefonar à mãe, ao pai e aos filhos, namorar… E uma pausa para respirar? Obviamente que tal não é possível e já nos apercebemos disso.


Assim, temos duas opções: encher a mala até mais não, numa batalha titânica para conseguir fechá-la e correr o risco desta rebentar na altura e no lugar mais inconvenientes, espalhando pelo ar as nossas peças mais íntimas e comprometedoras (os ‘boxers’ com patos luminescentes, por exemplo) ou selecionar criteriosamente as peças que sabemos com toda a certeza que nos vão fazer falta e que vamos usar.


Selecionar, escolher, definir prioridades, eis o segredo para uma boa gestão das nossas 24 horas e que afinal não é nenhuma revelação do outro mundo. No fundo, trata-se de distinguir o que é urgente do que é importante, porque aquilo que por vezes classificamos de urgente, ou que no-lo impõem como tal, de facto nem sempre é realmente importante.


A passagem bíblica de Eclesiastes 3:1 afirma que “Há tempo para todo o propósito debaixo do céul”. Então, nós, comuns mortais, não necessitamos de aspirar ao estatuto de super-homens ou mulheres-maravilha porque, segundo esta afirmação, temos tempo para tudo. Mas o autor da mesma não diz, nem tão pouco garante, que há tempo para tudo em 24 horas! O que pode ser um problema para certas pessoas.


Não tenhamos ilusões, alguma coisa tem mesmo que ficar para trás, para segundo plano… ou terceiro. Se queremos chegar ao que é realmente importante, temos que saber definir prioridades e descartar o que é acessório.


Uma das desculpas mais recorrentes para justificar uma falha é dizer que não tivemos tempo. Não temos falta de tempo. O que temos, isso sim, é “excesso de bagagem” para o tempo que temos e, mais tarde, a pesada fatura para pagar.


Carlos Pinto Leite

1 comentário:

  1. Muito bem visto. A sabedoria está em aceitar a nossa limitação; que nos obriga a escolhas. Já Sócrates (o velho) dizia: nasci vários; morro um só, o Sócrates que conheceis.

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