Todos temos 24 horas por dia, então, na
verdade, não temos falta de tempo. Da mesma forma que tentamos enfiar o nosso
roupeiro inteiro dentro de uma mala de viagem porque não queremos abdicar das nossas
100 peças de roupa favoritas e lutamos corpo a corpo com a mala para a
conseguirmos fechar, assim fazemos com a nossa porção diária de tempo.
Procuramos encaixar tudo aquilo que
precisamos e queremos fazer em 24 horas: comer, trabalhar, dormir, estudar,
descansar, ir às compras, limpar a casa, ajudar os filhos com os TPC’s da
escola, dar banho ao cão, passear o cão, ver televisão, ir ao Facebook, twitar,
ler emails, visitar amigos, preparar o jantar, brincar com os filhos, correr
para apanhar o transporte, correr para manter a forma, ler um livro, beber um
copo, passear, telefonar à mãe, ao pai e aos filhos, namorar… E uma pausa para
respirar? Obviamente que tal não é possível e já nos apercebemos disso.
Assim, temos duas opções: encher a mala até
mais não, numa batalha titânica para conseguir fechá-la e correr o risco desta rebentar
na altura e no lugar mais inconvenientes, espalhando pelo ar as nossas peças
mais íntimas e comprometedoras (os ‘boxers’ com patos luminescentes, por
exemplo) ou selecionar criteriosamente as peças que sabemos com toda a certeza
que nos vão fazer falta e que vamos usar.
Selecionar, escolher, definir prioridades,
eis o segredo para uma boa gestão das nossas 24 horas e que afinal não é
nenhuma revelação do outro mundo. No fundo, trata-se de distinguir o que é
urgente do que é importante, porque aquilo que por vezes classificamos de
urgente, ou que no-lo impõem como tal, de facto nem sempre é realmente
importante.
A passagem bíblica de Eclesiastes 3:1 afirma
que “Há tempo para todo o propósito debaixo do céul”. Então, nós, comuns
mortais, não necessitamos de aspirar ao estatuto de super-homens ou
mulheres-maravilha porque, segundo esta afirmação, temos tempo para tudo. Mas o
autor da mesma não diz, nem tão pouco garante, que há tempo para tudo em 24
horas! O que pode ser um problema para certas pessoas.
Não tenhamos ilusões, alguma coisa tem mesmo
que ficar para trás, para segundo plano… ou terceiro. Se queremos chegar ao que
é realmente importante, temos que saber definir prioridades e descartar o que é
acessório.
Uma das desculpas mais recorrentes para
justificar uma falha é dizer que não tivemos tempo. Não temos falta de tempo. O
que temos, isso sim, é “excesso de bagagem” para o tempo que temos e, mais
tarde, a pesada fatura para pagar.