11/01/2011

VERDADE À BRUTA


“Vocês conhecerão a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32)

Os verdadeiros amigos são absolutamente essenciais para a nossa sobrevivência. Podem contar-se pelos dedos de uma mão (ou duas). Não têm por que ser obrigatoriamente pessoas estranhas ao nosso núcleo familiar. Mas, quer o sejam ou não, se corresponderem ao estatuto de amigos de aliança, dir-nos-ão sem receio o que precisamos de ouvir, o que poderá ser diferente (se não totalmente oposto) daquilo que gostaríamos de ouvir.

Tal como um medicamento que nem sempre sabe tão bem com o bem que nos faz, assim é por vezes a verdade que precisamos de escutar. Não é agradável, incomoda, mas tem o poder de nos abrir os olhos para realidades invisíveis que, possivelmente, sempre estiveram diante de nós. A verdade que nos desconforta, por ser crua e tocar em feridas e fraquezas, pode veicular correcção vital em certas áreas e em etapas específicas da nossa vida, curando sentimentos, moldando pensamentos e ou corrigindo alguma percepção distorcida que temos dos outros ou da realidade que nos rodeia.

Mas é uma linha ténue aquela que separa a verdade que nos corrige (a tal que realmente precisamos escutar) das “verdades” que alguém entende que devíamos obrigatoriamente ouvir e aceitar! Está sempre na ponta da língua e é, de facto, poderosa a tentação de acusarmos quem discorda de nós de “não querer ouvir as verdades”. A diferença entre uma e outra é acentuada e reside na atitude que lhe serve de base. A correcção saudável é ministrada com firmeza e nasce do amor de alguém que se importa genuinamente connosco. “As verdades” que, por vezes, nos procuram impor emergem de uma atitude que se assume dona da razão e não admite diálogo, muito menos contestação.

Quando nos escudamos atrás dos argumentos “Sou uma pessoa frontal” ou “Digo o que tenho a dizer na cara das pessoas” pode ser apenas pretexto para nos justificarmos e debitarmos, sem filtros, tudo o que nos vier à cabeça, mesmo que humilhando o próximo e espezinhando os seus sentimentos.
É essencial não confundir frontalidade com brutalidade. Quando nos servimos da verdade (ou das “verdades”) como arma de arremesso, não somos frontais coisa nenhuma. Somos brutos!

(Carlos Pinto Leite)