05/03/2010

DE VOLTA À IDADE DOS PORQUÊS

“Eu já não aprendo”! A peremptória declaração apanhou-me de surpresa, vinda de quem veio, pessoa querida que sempre considerei de mente arejada. Talvez por isso, aquela frase chocou-me mais, de tão inesperada, pois nunca lhe tinha ouvido tal coisa. Sem saber por porquê, a minha mente capturou-a, como que sublinhada a marcador fluorescente. Talvez noutra altura me passasse despercebida.
“Eu já não aprendo”: O que significa esta afirmação?
. Não tenho capacidade para acompanhar os tempos actuais;
. Já vi e já sei tudo o que há para saber;
. Ninguém pode ensinar-me algo de novo;
. Não quero aprender mais!
. Não aceito novidade na minha vida pois vai trazer mudanças;
. Não quero mudar! Mudanças são incómodas…
Não consigo aceitar como verdade absoluta e inquestionável o dito popular “Burro velho não aprende línguas”, pois se é verdade que certas pessoas de idade possam ter dificuldade em adaptar-se ao ritmo e tempo actuais, não é menos verdade que elementos mais jovens possam ter dificuldade em reconhecer a sabedoria e experiência válida de quem já tem maior “quilometragem” de vida. E então, quem ganha? Ninguém. Seja jovem, “maduro” ou idoso, a partir do momento em que perca o espírito inquisidor de criança, todos perdem! Perde você a capacidade fabulosa de aprender, de acompanhar o ritmo dos tempos e de mudar, por incómodo (e necessário) que isso por vezes seja. Perde quem o rodeia a oportunidade de aprender e de mudar consigo.
Dizer “Eu já não aprendo”, significa desistir, parar no tempo e estagnar. É perder um mundo de oportunidades. Em última análise, é mesmo ficar para trás, porque o mundo não espera por nós.
Só depende da nossa atitude. Trata-se tão somente de manter vivo em nós o espírito irrequieto, curioso, inquisidor, humilde e ensinável da criança que já fomos. Ou, como dizia – e bem – o filósofo: “Só sei que nada sei”.

(Carlos Pinto Leite)