29/03/2009

Crónicas Do Metro - Roleta Russa


O homem, alto, esguio e de tez escura entrou na carruagem do metro. Quase imediatamente, um odor insultuoso aos sentidos emanou da figura andrajosa e os olhares caíram por instantes sobre o seu cabelo sujo e hirsuto, a barba rala e as roupas surradas, para logo se desviarem rapidamente daquele desagradável quadro da condição humana. Provavelmente, todos nós, passageiros, teremos pensado o mesmo: “Um bêbado… um drogado”. Mão estendida à esmola, iniciou o peditório. Os olhares, de compaixão alguns, de censura outros, de indiferença a maioria. O que pode levar um homem a uma situação destas? Como se explica que indivíduos com situação familiar e económica estáveis se encontrem, 20 ou 30 anos depois, a viver na rua e a dormir em caixas de cartão? Que circunstâncias do passado terão conduzido o mendigo do metro a esta situação degradante e humilhante?
Que factores podem conduzir as pessoas à mendicidade, pobreza, alcoolismo, toxicodependência e até morte prematura? É certo que ninguém nasce alcoólico ou toxicodependente. E a fatalidade de um destino que já estava traçado é também um argumento gasto e inválido.
Na sua maior parte, a nossa vida, presente e futura, é o produto das nossas escolhas do passado. A vida profissional que hoje temos é, em boa parte, produto das opções curriculares que fizemos no tempo de escola. O nosso casamento e família actuais resultam da pessoa que escolhemos para nosso cônjuge e do tipo de relacionamento que decidimos ter com ela. Não poucas vezes, o estado mais ou menos caótico da nossa vida familiar, espiritual, financeira ou outra foi (e é) influenciado por aqueles que elegemos para nossos amigos.
Quando éramos crianças, os nossos pais decidiam por nós. Agora que temos a capacidade de o fazer sozinhos (seja para o bem ou para o mal), somos os únicos responsáveis pelas nossas escolhas e pelas consequências que daí nos advierem. O mesmo sucederá com os nossos filhos. Quando crescerem, quererão tomar as suas próprias decisões sem a nossa interferência. Faz parte do processo de crescimento.
Voltemos ao mendigo do metro. Que decisões o terão conduzido àquele estado? Um sábio conselho de mãe rejeitado na juventude? A influência de “amigos da onça”? A precipitação num relacionamento condenado ao fracasso? O esbanjamento dos seus recursos em vícios? Nunca o saberemos. Mas se não investirmos o maior dos cuidados nas opções que em cada encruzilhada teremos de tomar, não estaremos livres de cair na mesma situação que ele.
Escolhas feitas sem a orientação de Deus são uma autêntica roleta russa cujo desfecho imprevisível tanto pode jogar a favor como contra nós. Buscar a orientação de Deus antes de tomarmos decisões como a aquisição de um carro ou casa, a escolha de um curso, de um emprego ou um casamento pode parecer uma posição demasiado extremista e religiosa (fanática até) e indiciadora de fraqueza mas, na verdade, é sabedoria em estado puro que certamente evitará dissabores no futuro. Isto nada tem a ver com declarações do tipo “Vamos lá a ver o que isto dá… e seja o que Deus quiser!” Isso não é fé, é “fezada”! Quando damos um passo em fé, enfrentamos o desconhecido mas sabemos que Deus estará um pouco mais à frente. Fezada é deixar a nossa vida ao sabor do acaso e brincar com o nosso futuro. E depois revoltamo-nos com situações que nós mesmos provocámos…
Evidentemente, certas situações exigem de nós reflexos rápidos mas, de uma forma geral, não é tanto a quantidade de tempo de reflexão que determina o sucesso das nossas decisões mas, sim, a qualidade do aconselhamento. Um conselho de um amigo sábio e experiente pode ser uma forma de obtermos a direcção de Deus e determinante para o sucesso das nossas escolhas.
Não deixe que as emoções ou a precipitação orientem as suas escolhas. Experimente e procure saber a opinião de Deus acerca das decisões importantes que está prestes a tomar. Não deixe que o presente hipoteque o seu futuro. Caso contrário, vemo-nos no metro um dia desses!...

(Carlos Pinto Leite)